terça-feira, 2 de março de 2010

A língua, os ancestrais, as estórias

Neste momento existe uma grande discussão em Angola e boa parte da África sobre o valor das línguas ancestrais. É bonito ver que o interesse por manter ligado este fio condutor das culturas persiste a massificação da informação. Todos os modernos recursos tecnológicos e necessidades do dia a dia nos impulsionam cada vez mais a uma língua universal, uma língua que não nos pertence, onde impera uma imagem de modernidade. O fato de se entender esta língua se impõe de forma tão avassaladora, que vemos nossos índios na amazônia, os povos distantes de uma áfrica perdida terem que falar esta nova e moderna língua, em detrimento de nosso tupi-guaraní, do kibundo, umbundo, fiote, tchokue dentre outras línguas de nossos pais e avós ancestrais, com toda sua riqueza simbólica, com toda a carga sentimental que estas línguas tão simples carregam. Esquecemos nossos contos ancestrais, e nos fartamos de Sheakspeare. Somos forçados a esta antropofagia, a temos que engulir estas palavras que não conseguem nos contextualizar. Parece que a obra do grande irmão, este estereótipo que nos persegue, esta cultura comercialmente vencedora nos obriga a digerir cada dia um pouco mais dela mesma. Nos vestimos tal qual, nos alimentamos tal qual, gostamos das mesmas músicas e, agora somos forçados a ouvir e falar tal qual o grande irmão, que a tudo vê e perscuta, e nos pune com nossa ignorância. Outro dia ouvi duas senhoras de rua em Luanda, duas kinguilas (operadoras de câmbio, por assim dizer)que falavam que a outra mana não entendeu quando o gringo pediu informações sobre quanto estava a cotação do dólar neste dia: Mana, é só fala assim: DE MÓNI IS NINEFIVE, viu?.

E assim vai. Aqui como no Brasil as palavras e termos em inglês vão se transformando em uma língua mais palatável, com a adequação de diveras palavras como por exemplo o termo TEKAWÊ, hoje já inserido no angolanês, e que significa TAKE AWAY, que representa quando queremos levar a comida do restaurante pra casa. Incrivel, não? Mais uma forma de sobrevivermos, quem sabe. Mas ao morrer a nossa língua mãe morrem as estórias. A carga poética das palavras que entendemos, que estão presentes nas estórias que nossos pais e avós contavam, e que trazem de volta as emoções tão necessárias ao homem. Sou a favor deste movimento. Voltemos as nossas línguas maternas, ao jeito de falar tão nosso. Que nossos filhos possam aprender outras línguas, mas que preservemos a nossa, como instrumento de cura, de retorno, e de paz.

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